Estresse e a saúde bucal

Estresse e a saúde bucal

A vida moderna tem resultado em um número sempre crescente de pessoas ansiosas e estressadas. Mas, enquanto muitos se recuperam durante uma boa noite de sono, outros sofrem ainda mais com episódios de bruxismo. De acordo com Nigel Carter, diretor da Fundação Britânica de Saúde Bucal, o problema já atinge uma em cada 10 pessoas, está se tornando cada vez mais comum e tem afetado, inclusive, adolescentes. "Até mesmo durante o dia, alguns pacientes relatam episódios em que ficam involuntariamente 'apertando' a mandíbula."
 
De acordo com a cirurgiã-dentista Katia Regina Izola, professora de Ortodontia da Escola de Aperfeiçoamento Profissional da APCD (Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas), algumas crianças chegam a ranger seus dentes de leite durante a noite, mas o hábito costuma desaparecer naturalmente. Por outro lado, o diagnóstico de bruxismo em adolescentes preocupa bastante. "Com o aumento das expectativas em relação ao desempenho escolar, tanto por parte dos pais, como da família, amigos e até mesmo do próprio aluno, têm aumentado casos de crianças com 12 ou 13 anos que rangem tanto os dentes que chegam a comprometer a dentina. O dano, em determinadas situações, é irreparável e a pessoa desenvolve alta sensibilidade para alimentos e bebidas quentes ou frias."  
 
A especialista explica que os dentes se formam em três camadas principais: polpa, dentina e esmalte. Quem sofre de bruxismo – e ainda não reportou o problema para o cirurgião-dentista – está mais vulnerável a sofrer desgaste em determinados pontos do esmalte e da dentina, pondo em risco não só o sorriso, como o formato do rosto também. Dor no maxilar, dor generalizada na face, dor de cabeça, dor de ouvido, perturbações no sono, tensão e rigidez nos ombros também são sintomas comuns em quem sofre de bruxismo. 
 
"Em casos graves, o paciente pode apresentar estalos ao mexer a boca, seja para falar ou para se alimentar. Até por isso, com o tempo, a alimentação pode se tornar difícil e desencadear outros problemas de saúde", diz Katia. Além de um tratamento ortodôntico convencional, que impedirá o contato dos dentes superiores com os inferiores durante o sono, a especialista diz que pode ser necessário fazer uso de anti-inflamatórios e ansiolíticos prescritos por determinado período, assim como atividades terapêuticas ou esportivas para aliviar o estresse. 
 
"A população feminina – com sua jornada dupla ou tripla – ainda é a mais afetada, porque tende a somatizar mais os problemas. Por consequência, além de apresentar aumento nos distúrbios gastrintestinais e doenças do coração, também apresenta mais casos de bruxismo e outras disfunções temporomandibulares. Imagine se uma pessoa passasse o dia inteiro na academia, fazendo exercícios com o braço. Em pouco tempo teria dificuldade até mesmo para segurar um lápis. O mesmo acontece com quem passa dia e noite forçando a musculatura dos maxilares. Logo a dor se torna insuportável e a impressão que se tem é de que tudo dói", diz a cirurgiã-dentista. 
 
Algumas alternativas de tratamento têm sido empregadas com sucesso – embora nem todo profissional já esteja capacitado em cada uma delas. O uso de laser de baixa potência é um recurso que vem sendo empregado com sucesso para quem range os dentes frequentemente à noite. "As aplicações devem ser iniciadas com doses mais altas de laser de baixa potência (até 100 mW de potência óptica de saída), em cinco sessões semanais. Com a melhora do caso, a dose pode ser diminuída e as sessões reduzidas a duas ou três vezes por semana. A resposta da paciente deverá ser observada a cada aplicação, checando a necessidade de alteração da dose. Em geral, os resultados terapêuticos aparecem com seis sessões iniciais", esclarece Katia. 
 
A especialista diz que, em determinados casos de bruxismo, uma abordagem multidisciplinar se faz necessária, com acompanhamento psicológico e até mesmo reeducação postural – tudo para que o paciente durma sem apertar ou ranger os dentes, agindo no controle das forças musculares exercidas em todo o sistema articular. "O importante é melhorar a qualidade do atendimento ao paciente, buscando alternativas eficientes para resolver seus problemas de base. Quase sempre há um componente psicológico que não podemos desprezar".   
 
 

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