Professor apresenta evolução da pesquisa Periodontal

Professor apresenta evolução da pesquisa Periodontal

Por Victoria Amorim 
 
A epidemiologia na pesquisa periodontal foi tema de uma palestra da Faculdade de Odontologia da USP (FO). O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luis Otávio Costa traçou uma linha do tempo da forma como a periodontia – área que trata das doenças relacionadas à gengiva – foi tratada desde o início do século 19 até os dias atuais.
 
Entre os anos de 1900 e 1950, as infecções bucais eram vistas como as principais causas dos problemas sistêmicos, e a exodontia – retirada dos dentes – era usada como principal forma de tratamento para essas doenças. Para se livrar das fontes dessas doenças sistêmicas, a periodontia era o principal método preventivo, de acordo com relatos clínicos analisados pelo professor. Isso era extremamente conveniente para os odontologistas da época, porque o perigo de infecção bucal trazia certo status para a periodontia, uma vez que ela exigia regulamentação.
 
Com o passar do tempo essas exodontias começaram a ter repercussão e se começou a pedir justificativa para a prática, e com isso surgiu a sua crise. De acordo com Costa, as pessoas começaram a questionar a imposição da opinião e do pensamento, pois tudo era baseado apenas numa impressão clínica. Os dados epidemiológicos não eram significativos e os fatores locais relacionados à doença periodontal não possuíam o investimento necessário.  
 
A Era dos Índices
 
O período que foi de 1956 a 1982 ficou conhecido como a Era dos Índices, assim nomeada por causa do sistema de indexação criado, que relacionava fatores como higiene bucal e idade com a forma como a doença era distribuída. Esses índices, de acordo com o professor, eram auto-alimentares, ou seja, eles eram construídos a partir de paradigmas ainda incompletos. Portanto, enquanto estes ainda eram fundamentados, aqueles eram alimentados.
 
Essa Era reinou por muito tempo, e os principais princípios tirados dela diziam que a gengivite progride para periodontite na ausência de higiene oral, que todas as pessoas são vulneráveis a essas doenças periodontais e que o desenvolvimento dessas doenças é contínuo. Em 1982, foi criado o CPITN (Community Periodontal Index of Treatment Needs), o mais conhecido índice, que foi baseado no paradigma construído pelos índices anteriores. Esse índice dizia que a placa, com o passar do tempo se transforma em gengivite, e esta, com o passar do tempo, se transforma em periodontite, a qual, por sua vez, resulta na perda dos dentes.
 
Na década de 80 começaram a surgir as críticas aos sistemas de indexação, e os argumentos utilizados eram os de que os exames eram parciais e causavam vieses de diferentes magnitudes. Como cada índice preconizava um fator, eram eficazes para estimar medidas periodontais médias, mas subestimavam aproximadamente 40% dos sítios afetados, afirmou Costa. O CPITN era criticado por superestimar os tratamentos e subestimar as condições graves. A conclusão que tiveram foi a de que um registro particular da boca forneciam melhores resultados.
 
A Era da avaliação de risco e os dias atuais
 
O professor da UFMG contou, então, que no período que vai de 1983 a 1996 se começa a concluir que a doença periodontal era heterogeneamente distribuída, a se avaliar quais eram os grupos de risco e os perigos de atividade da doença. Nessa época, as pessoas passaram a dar grande importância à extensão e à gravidade da doença, e a estabelecer grandes diferenças entre os padrões de distribuição, de suscetibilidade. Nessa época, ainda, perceberam que a doença não tinha um padrão fixo de progressão.
 
Essa também foi a época em que houve uma mudança de paradigmas que transformou a etiologia monocausal em etiologia multifatorial – ou seja o estudo da única causa virou estudo dos diversos fatores –, o que houve uma implicação nas pesquisas da época, pois passaram a fazer uma intensa busca para descobrir quais eram as variáveis de risco e o panorama se tornou cada vez mais complexo. “Cada indivíduo tem o seu próprio perfil de risco”, afirmou o professor.
 
A partir do ano de 1996, começou o ressurgimento da época da infecção bucal nas pautas dos estudos de periodontia. Esse tipo de doença, segundo Costa, passou a ser visto como fator de risco para outras doenças como diabetes, doença renal crônica, pré-eclâmpsia, câncer, entre outras doenças.
 
As principais implicações dessa nova visão foram a volta da valorização da profissão, pois ela se aproximou da classe médica, a grande ênfase no tratamento periodontal e as grandes verbas que começaram a ser destinadas para esse tipo de pesquisa.
 
O professor disse também que diversas críticas acompanharam essa mudança como as associações de diferentes magnitudes coma doença periodontal e as maiores relações com população de baixo nível econômico, negros e fumantes. Entretanto, as maiores crítica era em relação às variações nas definições da doença e as poucas evidências de que o tratamento periodontal diminuí o risco de se adquirir uma dessas doenças que viriam por consequencia dessa.
 
 
Fonte: Faculdade de Odontologia – USP

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