Organismo dos idosos é mais afetado por variações do clima

Organismo dos idosos é mais afetado por variações do clima

Um estudo ligado ao Incline, núcleo de pesquisa em mudanças climáticas da USP, e ao Instituto Nacional de Análise Integrada de Risco Ambiental (Inaira) se dedica a compreender como os idosos respondem a diferentes situações meteorológicas e níveis de poluição e umidade do ar. Como o tema envolve questões médicas e sociais, além da situação climática, participam do projeto pesquisadores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), Medicina (FM) e da Escola Politécnica (Poli) da USP.
 
A pesquisa busca estudar como o clima afeta o organismo do idoso e suas funções motoras, além de encontrar uma medida de conforto térmico para essas pessoas e descobrir como viabilizar a faixa de conforto nas casas dos idosos. “No fim tudo desemboca em políticas públicas”, afirma Fábio Luiz Teixeira Gonçalvez, professor do IAG.
 
Com o avanço da idade, o sistema de regulação térmica do organismo humano começa a falhar. Somos menos capazes de realizar procedimentos para controlar a desidratação, em altas temperaturas, ou de manter o corpo aquecido quando está frio. O calor é especialmente perigoso para os idosos, pois eles não percebem que estão desidratados. Por isso, mesmo nos dias mais quentes, tendem a usar roupas pesadas, manter a casa fechada, caminhar no momento errado e beber pouco líquido.
 
O problema dos idosos com a regulação da temperatura corporal somado a um clima cada vez mais propenso a extremos pode causar tragédias. Ondas de calor provocadas por mudanças ambientais já mataram milhares de idosos ao redor do mundo. Em 2003, cerca de 50 mil morreram durante o verão europeu. As ondas de calor também afetam a população brasileira, que está acostumada com temperaturas mais altas. Em fevereiro de 2010, mais de 30 idosos morreram em Santos, quando a sensação térmica atingiu 45ºC.
 
A pesquisa se limita a estudar idosos moradores da capital paulista, mas Gonçalvez alerta que o clima da cidade poderá ficar mais parecido com o de Santos, onde já houve mortes devido às ondas de calor: “Temos uma população muito maior e menos adaptada”, aponta.
 
A pesquisa foi proposta há três anos e até agora 68 idosos já passaram por avaliações em uma câmara climatizada, desenvolvida pela Poli. “Foi feito o experimento a 24ºC e 32ºC, que são os níveis de conforto e calor”, conta Gonçalvez. Os idosos não acharam a temperatura de 32ºC incômoda, indício de que seu sistema de regulação térmica não é eficiente. “Não é que o corpo não sinta calor, mas o idoso não percebe”, explica o professor. Os próximos passos serão as avaliações a 24ºC e 16ºC, níveis de conforto e frio, e a variação da umidade do ar. Os pesquisadores esperam que os idosos sintam desconforto com a temperatura mais baixa. Segundo Gonçalvez, “o metabolismo cai com a idade e no frio é necessário que ele aumente para combater a temperatura baixa.” Com o metabolismo deficiente, os idosos sofrem para se manter aquecidos e costumam ficar com as extremidades do corpo frias. “Eles vão reclamar bastante”, prevê.
 
Para que os testes sejam realizados sem interferências nos resultados, é preciso que os voluntários tenham mais de 65 anos, estejam em boas condições de saúde e não possuam doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, muito comuns na faixa etária. Os voluntários que preenchem os requisitos são encaminhados por médicos para o projeto. “Quem geralmente se ajusta a isso são em maioria mulheres, porque elas se cuidam mais, e asiáticos, porque eles praticam atividade física, comem direito, são mais saudáveis”, afirma o professor.
 
A poluição do ar e seus efeitos nos idosos também são alvos do estudo e serão analisados de forma indireta, comparando dados do verão, quando há mais chuvas e menos poluentes, e do inverno, com o tempo mais seco e maior concentração de poluição no ar. Os idosos ainda usarão coletores individuais de material particulado, para avaliar seu grau de exposição aos poluentes.
 
 
Fonte: Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas – USP 

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