Depois dos sessenta anos…

Depois dos sessenta anos…

Afinal, a vida começa aos 60… Hoje, o brasileiro vive mais e aos sessenta anos ainda se considera jovem para viver com maturidade, liberdade e estabilidade financeira. Mas, e a saúde bucal como vai? Bem, obrigado? Se for, maravilha! Vamos ver como ela anda ou como ela pode melhorar.
 
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as transformações demográficas, sociais e econômicas pelas quais passa a sociedade brasileira impactam as condições de vida e saúde da população, ao mesmo tempo em que geram novas demandas para o sistema de saúde do país. Ainda de acordo com a instituição, em matéria publicada na BBC Brasil, o número de brasileiros acima de 65 anos deve praticamente quadruplicar até 2060.
 
O cirurgião-dentista, odontogeriatra, Dr. Fernando Brunetti fala sobre o assunto:
 
1)    Como o Brasil cuida hoje da saúde bucal de seus idosos?
 
FB – Nos programas governamentais podem até existir atendimento voltado para idosos, mas isto não chega à grande massa populacional de idosos que já existe hoje. Pode-se destacar o belo serviço feito nos Centros de Referência de Idosos (que têm Odontologia, é claro….) por todo o Brasil, mas não esquecer que o atendimento é limitado aos moradores na área de abrangência daqueles Centros, e não para todos os idosos daquela cidade. Nos Postos de Saúde regulares, há um claro direcionamento para crianças, jovens e adultos que, somados, são em maior número que os idosos – mas esta última faixa  populacional (acima de 60 anos) é a que mais  cresce no Brasil, atualmente. Poucas cidades possuem atendimento voltado a idosos, é verdade, mas estas são em número menor que as REAIS necessidades odontológicas de nossos idosos.
 
2)    Como o senhor,  odontogeriatra, avalia a situação?
 
FB – Deveriam existir as cadeiras de Odontogeriatria nas Faculdades de Odontologia, este é o único caminho para criar mais cirurgiões-dentistas (CDs) com mais conhecimentos nos atendimentos para idosos. Nas 220 Escolas de Odontologia do Brasil, não mais de 18-20 têm a Odontogeriatria disponíveis e não existem cursos de Mestrado ou Doutorado na área para  formar mais professores com maior capacitação, muitas escolas apenas deslocam algum professor de outra área para falar de odontogeriatria.
 
3) O que deve mudar? E no que pode “melhorar”?
 
FB – Esperamos que este quadro mude  a partir de agora, quando o Exame do ENADE, realizado pelo INEP/MEC, colocou “Atendimento clínico odontogeriátrico” como um de seus tópicos a serem perguntados nos exames. Isto dará o posicionamento das escolas no ranking do Ministério da Educação (MEC). Algumas já se manifestam, mas existem professores capacitados em tal número disponíveis?  A grande massa de profissionais necessários para atender estes quase 19 milhões de idosos terá que sair das Faculdades de Odontologia.
 
4)    O idoso hoje tem mais apoio na saúde pública?
 
FB – Postos de Saúde/AMAs/Escolas Públicas Estaduais e Municipais/UBS (ou  com outras denominações locais) dão atendimento à toda população, não necessariamente voltado especificamente   aos idosos, e os cirurgiões-dentistas destas redes, provavelmente, não receberam informes odontogeriátricos em suas formações universitárias ou de atualização profissional específica  por seus contratantes. Claro, existem cidades, poucas, diga-se de passagem, em termos nacionais, que buscam dar uma boa cobertura aos idosos, mas estas atividades sempre são influenciadas pelas opções de prefeitos/secretários da saúde e de verbas disponíveis em cada momento social destas cidades. A continuidade de bons projetos voltados aos idosos sofre muito com esta chance de mudança de prioridades em saúde.
 
5)    O que precisamos para que o idoso brasileiro possa ter qualidade em sua saúde bucal?
 
FB – Hoje é preciso:
 
1) Muita informação preventiva URGENTE para os pacientes dentados (com dentes) e também informação preventiva consistente mesmo para os desdentados totais;
 
2) Informações sobre medicamentos e suas implicações bucais;
 
3) Informações básicas aos cirurgiões-dentistas (CDs) hoje em atendimento clínico;
 
4) Informação  vinda dos bancos universitários para a massa de CDs em cursos de graduação;
 
5) Maior divulgação da especialidade aos CDs já formados e a necessidade de, ao menos, cursos de atualização em odontogeriatria ( mais rápidos) e  também cursos  de especialização (duram 24 meses em média) para os CDs;
 
6)  Que os contratantes municipais, estaduais e da esfera federal busquem atualizar seus profissionais na área de odontogeriatria;
 
7) Que as empresas de convênios odontológicos busquem, ao menos, informar toda sua rede credenciada sobre atitudes clínicas básicas em odontogeriatria  e que estas empresas coloquem a odontogeriatria dentre as suas especialidades disponíveis, mas observando antes suas particularidades;
 
“Como se vê, há muito que fazer para solidificar esta área em termos de qualidade em saúde bucal para os idosos”, diz o Mestre e Doutor pela Faculdade de Odontologia da USP.
 
5)    Quais dificuldades o odontogeriatra enfrenta hoje no país?
 
FB – Creio que a grande dificuldade é a desinformação geral: de pacientes – preventiva ao menos; de profissionais – muitos ainda creem que a odontogeriatria é só saber fazer um “belo par de próteses totais”; das diretorias e congregações de faculdades de odontologia que precisam se conscientizar que, brevemente, 20 milhões de idosos – e muito são dentados – existirão no Brasil e que algo precisa ser feito JÁ; das autoridades constituídas (em termos de Brasil, salvo as cidades exceções, claro, mas muito poucas em termos nacionais) que, face às enormes carências que este país continental enfrenta, terão que se preocupar e agir, realmente, para atender estes milhões de indivíduos que pagaram impostos a vida inteira e que têm direitos a uma atenção à sua saúde bucal nos dias atuais
 
“Hoje não existem mais de 300 odontogeriatras no Brasil para um universo de quase 19 milhões de pessoas acima de 60 anos no Brasil hoje. Temos de convir que isto é muito pouco”, afirma Dr. Fernando.
 
Fernando Luiz Brunetti Montenegro é Mestre e Doutor pela Faculdade de Odontologia da USP; Especialista em Prótese e Periodontia (pelo CROSP); Coordenador de Cursos Especialização em Odontogeriatria na NAP INSTITUTO e na ABO-SP; Curso Longo de Gerontologia na Faculdade de Medicina da USP.
 
Comunicação do CFO – Fonte: IBGE/BBC Brasil

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