Água contaminada no enxágue de instrumental e liberação de endotoxinas

Água contaminada no enxágue de instrumental e liberação de endotoxinas

As bactérias Gram-negativas possuem, em suas paredes celulares, um componente lipopolissacarídico (LPS) tóxico denominado endotoxina; a porção lipídica é a responsável pela toxicidade. 
 
As endotoxinas só são liberadas em grandes quantidades, no tecido infectado, quando as bactérias sofrem lise, o que ocorre com frequência no desenvolvimento do processo infeccioso e em alguns casos de enxágue de instrumentais com água contaminada.
 
As endotoxinas caracterizam-se pela resistência ao calor, até mesmo à autoclavação, podendo persistir em instrumental submetido a esse processo de esterilização. Assim elas seriam “cadáveres de bactérias Gram-negativas” presentes no instrumental cirúrgico, penetrando na corrente sanguínea.
 
O potencial tóxico das endotoxinas varia de bactéria para bactéria, mas todas têm marcantes atividades biológicas.
 
É importante ressaltar que em hospitais a água de último enxágue de instrumentais e de artigos reprocessáveis é tratada (Osmose Reversa) dada o risco iminente de desencadeamento de Reação Pirogênica em pacientes submetidos a procedimentos como neurocirurgia, cirurgia cardíaca, otorrinolaringologia e hemodiálise.
 
 A esse grupo também incluímos cirurgias odontológicas: periodontais, implante, enxerto e outros.
 
A atividade pirogênica ocorre quando as endotoxinas induzem à liberação do pirogênio dos fagócitos, que promove alteração do centro termorregulador do hipotálamo, da qual resulta a febre.
 
Podem ocorrer também através da liberação de endotoxinas, em casos extremos, eventos como:
 
• Ativação de macrófagos para liberação de citocinas e outros mediadores de inflamação como prostaglandinas e enzimas hidrolíticas endógenas (colagenases, elastases etc.);
 
• Atividade mitogênica para células T;
 
• Citotoxicidade para fibroblastos;
 
• Interferência nos mecanismos de glicogenese e neoglicogênese, conduzindo à perda do glicogênio hepático;
 
• Agregação de plaquetas;
 
• Colapso intravascular e choque irreversível, que levam à morte.
 
A orientação básica para a área odontológica é a colocação de um filtro de carvão ativado na torneira de lavagem de instrumental. Este deve ser limpo e trocado conforme instruções do fabricante.
 
Trata-se de uma medida simples, porém de grande relevância e impacto na Segurança do Paciente, assunto atual em discussão na OMS (Organização Mundial da Saúde).
 
A ideia que a maioria dos profissionais tem de esterilização é, muitas vezes, errônea já que existem detalhes importantes no processamento de instrumental que devem ser considerados. 
 
 
Drª. Lusiane Borges 
 

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